segunda-feira, 20 de abril de 2009

INDECISÕES E PROCRASTINAÇÕES

“Mas há mais ainda: então, dizeis, a consciência ensinará ao homem (mas, na minha opinião, isso já é um luxo supérfluo) que ele nunca teve vontade, nem caprichos, e que ele não passa, em suma, de uma tecla de piano, de um pedal de órgão; o que realiza, por conseguinte, realiza-o, não segundo sua vontade, mas conforme as leis da natureza. Basta pois descobrir essas leis, e o homem então não poderá mais ser considerado responsável por suas ações, e a vida se lhe tornará extremamente fácil. Todas as ações humanas poderão ser evidentemente calculadas matematicamente, de acordo com essas leis, como se faz para os logaritmos, até o centésimo milésimo, e serão escritas nas efemérides, ou far-se-ão livros estimáveis, no gênero dos nossos dicionários enciclopédicos, onde tudo ficará tão bem calculado e previsto que não haverá mais aventuras, nem mesmo mais ações.”

(DOSTOIEVSKI, MEMÓRIAS DO SUBSOLO)

Seria um alívio se todas as nossas ações se cumprissem, em sua totalidade, segundo os ditames de forças remotas, externas aos nossos desejos e imunes as nossas decisões? 

Sem dúvida, existem aqueles que se agarrariam prontamente a esta possibilidade. Suas esperanças de redenção nela residiriam e passariam então a erguer castelos de sonhos em seus mundos imaginários, onde experimentariam de vidas plenas de gozos e incessantes volúpias, sem, no entanto, serem incomodados por nenhuma espécie de mal-estar moral. 

Provavelmente a maioria dos homens já surpreendeu a si mesmo alimentando desejos de viver em mundos guiados de tal forma. Mas passada a agitação inicial, poderiamos enxergar um certo incomodo, uma certa austeridade na forma de se viver em semelhantes condições, em semelhantes realidades de homens estéreis, privados das rédeas das próprias vidas, sem controle algum, tais como cata ventos girando apenas em obediência aos desejos outrem.  

Não, definitivamente seria melhor acreditar que somos de fato donos dos nossos narizes, por feios ou belos que possam ser, mesmo que sob nossos ombros recaia o peso da responsabilidade, que nossas consciências se abalem com "ressacas morais", mas que no final, coroados ou condenados por nossos próprios atos, possamos nos descobrir livres, senhores (ou escravos) de nós mesmos.

(INACABADO)


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